Como estou recebendo comentários de mulheres que ainda não engravidaram e não é minha intenção desencorajá-las, resolvi deixar de lado meu estilo de escrever por um momento a fim de esclarecer o meu ponto de vista.
Acho que muito do que se fala em torno da gravidez é romanceado ou hipócrita mesmo. O período da gestação é bem chato na maior parte do tempo, mas como algo que dura quase um ano da sua vida e do qual você não pode se afastar nenhum segundo pode ser 100% interessante? Conheço pessoas apaixonadas pelo trabalho, mas todas têm aquele dia em que dá vontade estrangular o chefe, ou fingir que está doente pra passar o dia na cama, ou olham o sol lindo pela janela e desejam estar na praia e não no escritório...
Quando você está grávida, está grávida e pronto. São 24 horas do seu dia durante 40 das 48 semanas do ano. Não dá pra tirar a barriga pra enxugar o pé ou pra dormir melhor à noite, não dá pra comer uma feijoada sem sofrer as conseqüências dos puns que ela vai te fazer soltar e que você não vai conseguir controlar! No começo da gestação não tem barriga, muita gente sofre com os enjôos (eu sofri), você não sente o neném mexer e ainda existe aquela tensão constante relacionada a um possível aborto espontâneo. Isso tudo é super difícil e muito real, mas ao mesmo tempo ninguém fala sobre essas coisas. O mundo te obriga a se sentir incrível e iluminada e ai de quem achar qualquer aspecto da gravidez ruim, pois está fadada a ser uma mãe terrível, um monstro de barriga!
Essa coluna não é anti-gravidez, pelo contrário, ela não poderia ser mais pró-grávida do que é! Aqui ninguém vai te enganar dizendo que a pele fica mais bonita, que as criancinhas “sentem” que você está grávida e correm para o seu colo, que o seu sexto sentido fica mais aguçado e que é normal sentir desejo de comer tijolo com sorvete. Talvez se alguém tivesse me dito antes de eu engravidar algumas verdades sobre a gestação, a experiência em si não tivesse sido tão frustrante às vezes...
Estar grávida é sim muito mágico e cada mulher vai sentir essa magia à sua maneira. Eu planejava comer de acordo com o cardápio da nutricionista, fazer hidroginástica 3x por semana, ser mais paciente, ouvir mais música clássica para estimular o bebê, conversar com o umbigo e abraçar esse emprego full-time com a maior graciosidade do mundo. Eu cheguei a me consultar com a nutricionista, que me passou um cardápio que nunca coloquei em prática nem no restaurante self-service, fiz um mês de aula de hidroginástica, continuo ouvindo a rádio de notícias no carro e uso salto alto escondido para não levar bronca do marido. Não fazia parte desses planos escrever uma coluna sobre medos, inseguranças, frustrações e puns, eu juro!
Esses dias eu fui ao shopping comprar uma camisola sexy para usar com o maridão e a desgraçada da vendedora só me vinha com roupa de hospital, sutiã de amamentação e calcinha segura-barriga. Pra mim ISSO é ser anti-grávida!
Atitude anti-grávida é querer fazer a mulher se sentir culpada por ter vontade de dançar, se sentir ridícula por querer ser sexy, se sentir bonita com o rosto cheio de espinhas que ela não teve nem durante a adolescência, se sentir na obrigação de perder 20 kg em um mês depois do parto, se sentir preguiçosa por ter sono, se sentir insegura por não ter o mesmo apetite sexual, se sentir excluída porque não pode tomar uma cerveja no Happy Hour, se sentir desleixada por não conseguir aparar os pêlos do púbis sozinha, se sentir menos mãe por querer ser somente ela mesma de vez em quando...
Se você está ou pretende ficar grávida, não entre no time das anti-grávidas! Seja de carne e osso, ame e odeie essa experiência, viva os prós e os contras intensamente, pois durante 40 semanas ninguém mais vai poder fazê-lo por você...